Por que os feriados machucam?
O final do ano, esse tempo de grande alegria e envolvimento com a família, também pode ganhar uma atmosfera de medo e de angústia. Entenda como isso acontece
Por Gisela Adissi 22/12/2016
O luto vem em ondas que parecem ser maiores que a gente. Algumas delas são bastante previsíveis e parecem estar “agendadas”: em datas especiais, começamos a sentir a “maré” uns 30 dias antes e o auge da angústia atinge o ápice no dia em questão, seja a data de um aniversário ou mesmo a data de falecimento.
E aí vêm os feriados: Dia das Mães, dos Pais, Natal, Ano Novo… A mesma sensação desconfortável, aquela dor já conhecida, volta a aparecer. Mas afinal, por que os feriados machucam?
Os feriados podem criar conflitos.
É fácil identificar como os conflitos podem se desenvolver. A família e os amigos querem tudo de volta ao normal, para que então os feriados possam acontecer. Você sabe que nunca vai existir o “normal” de novo. Eles querem as festas se desenrolando exatamente como eram e você sabe que “festas como antes“ negam a perda e colocam no trivial a vida daquela pessoa que não está.
A pressão pode ser bem intensa “precisamos que o Natal seja normal para as crianças” ou “isso é o que ele iria querer”. Existem várias maneiras de se dizer mas a mensagem subliminar é sempre a mesma: chegou a hora de você superar o luto e recolocar as coisas no lugar. Mas às vezes isso não pode ser feito.
Os feriados podem interromper o processo de luto
Luto é um trabalho full-time. Ele domina todos os momentos e demanda atenção total. Especialmente nos primeiros meses. Luto é uma transição: onde você está hoje não será onde você estará amanhã.
Todos os dias novos sentimentos e pensamentos se apresentam e eles precisam ser processados. O luto também demanda toda energia que você puder reunir. Assim, você provavelmente não tem o tempo e a energia necessários para os feriados do final do ano. Muitas vezes apenas pensar nos preparativos já pode ser exaustivo.
Luto significa que você está vivendo no nível de sobrevivência. A única coisa que você pode fazer é sobreviver dia após dia. Você pode sentir, ás vezes, que está se tornando uma pessoa egoísta e que no fundo está apenas sentindo pena de você mesmo. Mas não está. Sobreviver é uma defesa interna de cada um de nós que direciona toda a energia que temos para dentro, para proteger nossa sanidade e bem-estar. Quando você está sobrevivendo, os feriados parecem muito distantes do dia a dia para serem considerados.
Isso significa que a ideia de fazer compras para o Natal, se preparar para o Hanukkah ou participar de um amigo secreto exige bastante e pode ser desgastante.
Os feriados trazem demandas que você não pode atender
O fim do ano demanda um foco que você não pode dar – você pode se sentir um “zumbi” em movimento.
O fim do ano demanda emoções que você não pode entregar – a depressão do luto justifica sua presença não só por sentimentos tristes mas ás vezes, pela ausência completa de sentimentos. Você parece deslocado e emocionalmente é como se estivesse “fora do seu corpo”.
O fim do ano demanda uma certa dose de atuação que você não pode encenar – você tem que colocar um sorriso no rosto e fazer uma participação que não estão disponíveis nesse momento. Uma hora atuando assim pode equivaler a um longo dia de trabalho pesado. É exaustivo.
A chave é a PERMISSÃO.
Permita-se fazer o que você pode fazer. E estar onde você precisa estar. Sentir-se livre para decidir o que quer e o que pode fazer, sem culpa.
Permita-se mudar as tradições. Sentir-se livre para transformar o que for necessário. Plantar uma árvore ao invés de montar uma de Natal. Dormir cedo para aproveitar a manhã do dia 1. A regra é: se dói, não precisa fazer como sempre fez. Criar novas tradições pode trazer um outro significado para a data.
Permita-se se relacionar com Deus de outro jeito. Qualquer Deus pode ser grande o suficiente para suportar nossa raiva ou revolta. Reconstruir ou destruir um Deus também é permitido.
Permita-se encontrar “pessoas de segurança”. Aquelas pessoas que te deixam confortável, que escutam e toleram e querem estar pertinho para um abraço ou um silêncio.
Texto inspirado no livro “Thoughts For The Holidays” de Doug Manning.
É exatamente como me sinto, amor eterno Eduardo.
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