AUTOR: DR. PEDRO PINHEIRO
Sorologia é o nome do exame usado para identificar a presença de determinados anticorpos no nosso sangue. A sorologia é um método indireto de identificar uma infecção. Uma vez que só podemos desenvolver anticorpos contra germes que já nos contaminaram, ter sorologia positiva contra o CMV, por exemplo, significa que o paciente já teve citomegalovirose em algum momento da vida (mesmo que a doença tenha sido completamente assintomática).
A sorologia pesquisa dois tipos de anticorpos, a imunoglobulina G (IgG) e a imunoglobulina M (IgM). Quando entramos em contato pela primeira com algum micróbio, o sistema imunológico produz de forma relativamente rápida, dentro de alguns dias, anticorpos do tipo IgM. O IgM é um anticorpo de fase aguda, presente durante a fase ativa da infecção. Após a cura, o sistema imunológico passa a produzir outro tipo de anticorpo, o IgG. O IgG é um anticorpo de memória, utilizado pelo organismo para impedir que o paciente volte a se infectar pelo mesmo micróbio. Portanto, ter IgM circulando no sangue é um sinal de doença em fase aguda, enquanto que ter IgG reagente indica que o paciente teve a doença no passado e agora encontra-se imune à mesma.
Na maioria das infecções, a lógica dos anticorpos IgM e IgG é simples, conforme acabamos de explicar. Na citomegalovirose, porém, a situação é um pouco mais complexa.
No caso da infecção pelo CMV, os primeiros anticorpos do tipo IgM surgem dentro de 2 semanas e podem demorar até 12 meses para desaparecer. Isso significa que uma grávida de 2 meses pode fazer a sorologia, encontrar anticorpos IgM positivos, mas não ter sido infectada pelo CMV durante a gravidez, mas sim meses antes. Se a gestante não tiver tido sintomas, fica difícil saber se a infecção pelo CMV é recente ou ocorreu já há alguns meses.
A dosagem dos anticorpos tipo IgG ajuda um pouco a esclarecer essa situação. Os primeiros anticorpos IgG surgem cerca de 3 semanas após a infecção, aumentam de concentração durante algumas semanas e depois se estabilizam, permanecendo detectáveis para sempre no sangue. Portanto, se a gestante faz duas dosagens de IgG com 4 semanas de intervalo e o valor aumenta cerca de 4 vezes de uma para outra, isso é um sinal de infecção recente. Por outro lado, se os valores de IgG reagente forem semelhantes com 4 semanas de intervalo, isso significa um IgG já na fase estável, o que indica infecção antiga.
Mas a confusão não acabou ainda. Nos pacientes com reativação do CMV, os títulos de IgM e IgG podem se elevar da mesma forma que ocorre na infecção primária. Portanto, se a situação sorológico prévia da gestante não for conhecida, o fato dela ter um IgM reagente não ajuda muito, pois isso pode significar:
1- uma infecção antiga, que ocorreu há vários meses, mas que ainda tenha IgM positivo circulante.
2- uma infecção primária recente e, portanto, com risco de problemas para o feto.
3- uma reativação de um CMV antigo, situação que acarreta um risco mais baixo de complicações para o bebê do que a infecção primária.
Pelos motivos explicados acima, muitos obstetras não pedem de rotina a sorologia contra CMV, caso as gestantes sejam completamente assintomáticas. Na verdade, apesar da sorologia poder criar alguma confusão, principalmente ser vier com IgM positivo, ela pode ser útil na situação oposta, ou seja, quando a gestante tem um IgM negativo e um IgG positivo. Neste caso, isso significa que a grávida já teve CMV no passado, havendo um risco muito baixo dela desenvolver citomegalovirose durante a gravidez.
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